“Não se preocupem comigo”: Morten Harket, icônico vocalista do A-ha, revela que tem Parkinson
- Kika Mesquita
- há 19 horas
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Atualizado: há 5 horas

Morten Harket, o icônico vocalista da banda norueguesa A-ha, revelou publicamente que está enfrentando a doença de Parkinson. Aos 64 anos, o cantor, conhecido por sua impressionante extensão vocal e performances intensas em sucessos como Take On Me, Stay On These Roads e Summer Moved On, convive com a doença há alguns anos — algo que até então vinha sendo mantido em sigilo fora de seu círculo mais íntimo.
O anúncio foi feito por meio de um artigo assinado pelo jornalista e biógrafo da banda, Jan Omdahl, publicado no site oficial do A-ha. Segundo o texto, Morten convive em silêncio com o diagnóstico, buscando preservar sua privacidade diante de um quadro progressivo e cheio de incertezas. “Eu não tenho problema em aceitar o diagnóstico. Com o tempo, adotei a atitude do meu pai de 94 anos: ‘uso o que funciona’”, afirmou o cantor.
Tratamento avançado e melhora significativa
Diagnosticado com Parkinson — a doença neurológica que mais cresce no mundo e atinge cerca de 10 milhões de pessoas globalmente — Morten iniciou um tratamento de ponta nos Estados Unidos. Em junho de 2024, passou por um procedimento cirúrgico no renomado Mayo Clinic, onde foram implantados eletrodos em uma região profunda do lado esquerdo do cérebro. Esses eletrodos estão ligados a um pequeno dispositivo sob a pele do tórax, semelhante a um marca-passo, responsável por enviar impulsos elétricos ao cérebro.
A técnica, chamada de estimulação cerebral profunda (DBS, na sigla em inglês), proporcionou uma melhora drástica em seus sintomas físicos. Um novo procedimento no lado direito do cérebro, realizado em dezembro do mesmo ano, também foi bem-sucedido. Segundo Morten, a intervenção permitiu que ele voltasse a dirigir e executar tarefas cotidianas com relativa normalidade em dias bons — ainda que o tratamento exija um complexo equilíbrio entre medicação, sono, glicemia, estímulos elétricos e estado emocional.
Voz comprometida
Apesar da melhora física, um dos maiores desafios para Morten está relacionado à sua voz — seu instrumento mais emblemático. A doença e os efeitos colaterais dos medicamentos interferem diretamente em seu desempenho vocal. “O problema da minha voz é uma das razões pelas quais não sei qual será o meu futuro criativo. Hoje, não me sinto capaz de cantar”, admite.
Morten, no entanto, lida com a situação com a serenidade de quem nunca se definiu apenas como cantor. “As pessoas me associam a isso, naturalmente. Mas tenho outras paixões, outras partes de mim que são igualmente verdadeiras. Eu sempre fui feito para fazer coisas diferentes.”
Discrição e exposição pública
Ao longo dos últimos anos, Morten optou por manter a condição em segredo. A decisão de tornar público o diagnóstico agora vem da consciência de que, em algum momento, isso se tornaria inevitável — especialmente ao sair em público e enfrentar as reações de fãs e desconhecidos. “Não quero que a doença seja vista como um segredo. Isso me incomodava mais do que a exposição.”
A revelação, segundo ele, também deverá desencadear uma enxurrada de mensagens bem-intencionadas, sugestões de tratamentos alternativos e teorias diversas. “Eu sei que vêm de um lugar de carinho, mas preciso confiar nos profissionais que estão comigo. Não consigo processar mais nada além disso.”
Um futuro ainda possível
Apesar das limitações e da incerteza sobre o futuro nos palcos, Morten não descartou totalmente a possibilidade de criar ou lançar novas músicas. Ele mostrou ao biógrafo letras recentes e gravações demo em que sua voz ainda aparece com força e sensibilidade. “Gosto da ideia de seguir em frente, como paciente de Parkinson e como artista, com algo completamente fora da caixa. Está nas minhas mãos, só preciso lidar com isso primeiro.”
Ao ser questionado sobre o que diria aos fãs ao redor do mundo, respondeu com generosidade e consciência ambiental:
“Não se preocupem comigo. Descubram quem vocês querem ser — um processo que pode se renovar a cada dia. Sejam bons servidores da natureza, cuidem do meio ambiente enquanto ainda é possível. Usem sua energia para enfrentar os verdadeiros problemas. Eu estou sendo cuidado.”
Referências e contexto
Morten se junta a uma lista de artistas que também tornaram pública a convivência com o Parkinson, como Ozzy Osbourne, Neil Diamond, Linda Ronstadt e Michael J. Fox — este último, aliás, fundou uma organização voltada para pesquisa e tratamento da doença em 2000, após seu próprio diagnóstico em 1998.
A notícia comove fãs e admiradores do mundo todo, mas também evidencia a coragem e a lucidez de um artista que, mesmo enfrentando uma das batalhas mais difíceis de sua vida, permanece criativo, escrevendo letras e desenvolvendo novas composições — ainda que sem garantias sobre quando ou como poderá retomá-las publicamente.
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