Guitarra icônica de "De Volta para o Futuro" está desaparecida e ganha busca cinematográfica
- Kika Mesquita
- 3 de jun.
- 3 min de leitura

A lendária guitarra vermelha tocada por Michael J. Fox como Marty McFly em De Volta para o Futuro está desaparecida há décadas — e agora virou alvo de uma verdadeira caçada liderada pela Gibson Guitars, a Universal Home Entertainment e o cineasta Doc Crotzer. A busca será documentada no filme "Lost to the Future", que já está em produção.
O instrumento em questão é uma Gibson ES-345 Cherry Red, usada na famosa cena do baile “Encanto Submarino” (Enchantment Under the Sea), em que Marty toca “Earth Angel”, dos Penguins, e depois surpreende a todos com uma performance enérgica de “Johnny B. Goode”, de Chuck Berry. Embora a cena se passe em 1955, a guitarra só começou a ser produzida em 1958 — e na cor vermelha apenas no ano seguinte. Mesmo fora da cronologia histórica, a escolha deu à cena um impacto visual marcante.
A guitarra foi originalmente alugada como figurino da loja Norm’s Rare Guitars, em Tarzana, na Califórnia, e nunca mais foi vista. A trilha de seu paradeiro esfriou com o tempo, mas a missão de encontrá-la nunca foi abandonada. Mark Agnesi, diretor de experiência de marca da Gibson e ex-funcionário da Norm’s, busca o instrumento há 16 anos: “Sempre que eu ia ao depósito da Norm’s, procurava por ela — mas nunca encontrei nada.”
Uma esperança para a identificação está em um detalhe único: o inlay sólido na 12ª casa do braço da guitarra, diferente dos demais, que são divididos. Segundo Agnesi, esse “erro” de fabricação funciona como uma impressão digital. “É a nossa prova. Não existe outra guitarra com esse detalhe.”
O inlay é um detalhe decorativo (geralmente feito de madrepérola ou outro material) incrustado no braço da guitarra, nas casas do instrumento — normalmente usado para indicar posições, como a 3ª, 5ª, 7ª, 12ª casas etc. Na maioria das guitarras Gibson ES-345, o inlay da 12ª casa é dividido (split parallelogram) — ou seja, ele aparece como duas partes separadas.
Mas no caso da guitarra usada em De Volta para o Futuro, o inlay da 12ª casa é sólido, ou seja: inteiriço, sem divisão. Isso a torna única e funciona como uma espécie de “impressão digital” para identificá-la, já que esse tipo de inlay não era o padrão de fábrica. Essa é a principal pista para localizar o instrumento original.
Cineasta e guitarrista amador, Crotzer revela que o filme De Volta para o Futuro foi a razão de ele ter seguido carreira no cinema. “Sempre me perguntei o que aconteceu com aquela guitarra. Muitos objetos do filme já apareceram com o tempo, mas ela nunca.”
O documentário Lost to the Future promete ser mais do que uma simples investigação. A ideia é explorar o impacto cultural daquela cena e da música na vida de gerações. Celebridades como Chris Martin (Coldplay), John Mayer e Jason Isbell, que já citaram o filme como influência em suas carreiras, também farão parte da produção. “A razão pela qual estamos em uma banda é por causa de De Volta para o Futuro,” disse Chris Martin ao apresentar Michael J. Fox no palco do Glastonbury Festival em 2023. “Ele é nosso herói para sempre.”
O próprio Fox participa de um episódio especial do programa Gibson TV: The Collection, previsto para outubro, em que fala sobre sua paixão pela guitarra e sua coleção pessoal de mais de 40 instrumentos. No mesmo mês, Gibson e Epiphone lançarão modelos comemorativos da ES-345, roupas temáticas do filme e uma ação conjunta com a Fundação Michael J. Fox, que apoia pesquisas sobre Parkinson, doença com a qual o ator convive há décadas.
“Tudo o que eu queria era ser guitarrista de rock’n’roll. Acabei virando ator, mas o amor pela guitarra nunca saiu de mim,” diz Fox. “Aquela ES-345 era como a Excalibur. Eu estava com 23 anos, me divertindo como nunca… mas não fazia ideia de como aquela cena tocaria tantas pessoas.”
A equipe por trás do documentário também criou uma linha direta para receber pistas sobre o paradeiro da guitarra: 1-855-345-1955. Informações também podem ser enviadas pelo site oficial.
Mesmo sem saber onde a guitarra está — há rumores de que ela pode ter sido comprada por colecionadores japoneses nos anos 80, durante o boom de instrumentos vintage —, os criadores esperam por um final feliz. “Descobrimos que essa história é maior do que imaginávamos,” conclui Crotzer. “Queremos capturar não apenas a busca, mas como aquele momento inspirou milhares de pessoas ao redor do mundo.”
Comments